Hacienda Santa Rita, región de Diamantina, Minas Gerais. 15 de junio de 1865. Aún no había amanecido cuando Benedita despertó en el barracón de los esclavos con una extraña premonición. Ignoraba que ese día descubriría algo que cambiaría su vida para siempre y que, en pocos meses, tres hombres morirían envenenados por las mismas hierbas que cultivaba con fines curativos.
Benedita se levantó de su cama de paja y caminó hasta la pequeña ventana de la antigua vivienda de los esclavos. Afuera, la neblina matutina cubría las colinas de Minas Gerais como una sábana blanca, y el olor a tierra húmeda se mezclaba con el aroma de las flores silvestres que crecían alrededor de la propiedad. A sus 28 años, Benedita conocía cada planta, cada raíz, cada hoja que crecía en esas tierras.
El conocimiento que su abuela Joaquina le había transmitido antes de morir, susurrándole secretos sobre plantas curativas y también sobre aquellas que mataban. La hacienda de Santa Rita pertenecía al mayor Antônio Pereira da Silva, un hombre de 49 años conocido en toda la región por su riqueza y su crueldad hacia los esclavos. La propiedad se extendía a lo largo de más de 3000 alqueires de tierra fértil, donde unos 180 cautivos trabajaban cultivando café y maíz, y criando ganado.
La Casa Grande era un imponente edificio de dos plantas con una amplia veranda sostenida por columnas de esteatita, típica de la arquitectura colonial de Minas Gerais. A la izquierda se encontraban los barracones de los esclavos, edificios bajos y oscuros donde las familias esclavizadas vivían hacinadas. A la derecha estaban los corrales, los establos y la pequeña capilla, donde el mayor fingía ser un católico devoto cada domingo.
El mayor Antônio llevaba doce años viudo, desde que doña Clara murió al dar a luz a su tercer hijo. Ahora vivía en la hacienda con sus tres hijos. Rodrigo, el mayor, tenía veintiséis años y se había licenciado en Derecho en São Paulo, pero prefería pasar el tiempo bebiendo y maltratando a las jóvenes esclavas. Henrique, el hijo mediano, tenía veintitrés años y administraba la hacienda; era conocido por su extrema violencia al castigar.
Y el más joven, Marcelo, de apenas 20 años, que había estudiado en un internado de Río de Janeiro y acababa de regresar a casa lleno de ideas para modernizar la propiedad. Benedita había llegado a la hacienda Santa Rita en enero de 1863, dos años y medio antes de aquel fatídico día de junio. La había comprado a una hacienda en quiebra en Cerro por 800 reales.
Mil réis, un precio elevado que reflejaba no solo sus habilidades culinarias, sino principalmente su conocimiento de plantas medicinales. El mayor había oído que podía curar desde dolores de estómago hasta heridas infectadas. Y en una región donde los médicos eran un lujo escaso, una esclava que entendía de medicina natural valía su peso en oro.
Alta, de piel morena y ojos que parecían guardar secretos ancestrales, Benedita tenía manos firmes y voz suave. Hablaba poco, observaba mucho y había heredado de su abuela no solo el conocimiento de las hierbas, sino también una profunda sabiduría sobre la naturaleza humana. En sus primeros meses en la granja, Benedita se ganó el respeto de los demás esclavos por sus curaciones milagrosas.
Cuando el pequeño João, de apenas unos años, estuvo a punto de morir de fiebre alta, fue el té rompepiedras que ella preparó lo que le salvó la vida. Cuando la esclava Joana tuvo una herida en el pie que no sanaba, fue la cataplasma de hierbas de Santa María, hecha por Benedita, la que curó la infección.
Em pouco tempo, até os capatazes vinham procurá-la, quando sentiam algum mal, sempre as escondidas, porque era humilhante para um homem branco admitir que precisava da ajuda de uma negra. Benedita cultivava suas plantas em um pequeno terreno atrás das cenzalas, onde o major havia permitido que ela fizesse uma horta medicinal.
Ele achava que era investimento inteligente ter uma curandeira na propriedade, principalmente depois que ela salvou a vida do seu cavalo favorito com um preparado especial quando o animal havia comido uma planta venenosa. “Essa negra vale mais que muito doutor formado”, costumava dizer o major para os vizinhos, orgulhoso da sua aquisição. Mas Benedita sabia coisas que o major ignorava.

sabia que a mesma erva que curava em pequenas doses matava em doses maiores. Sabia que algumas plantas, quando misturadas de forma correta, produziam venenos impossíveis de detectar. Sabia que comigo ninguém pode quando preparado adequadamente causava uma morte que parecia natural, como se fosse ataque do coração. E sabia que a natureza, na sua sabedoria infinita, havia dado às pessoas oprimidas as ferramentas para se libertarem dos seus opressores.
No início, Benedita usou seus conhecimentos apenas para o bem. curava, aliviava dores, salvava vidas, mas ela observava tudo ao seu redor, com olhos atentos. Viu Rodrigo estuprando Mariazinha, uma menina de apenas 15 anos, e depois rindo com os irmãos sobre como ela havia chorado. Viu Henrique mandando dar 80 chibatadas em Sebastião, porque ele havia olhado diretamente para ele quando estava recebendo ordens.
Viu Marcelo, o mais novo e supostamente mais educado, quebrar o braço do velho Jerônimo com uma vara, porque o homem de 60 anos não conseguiu carregar um saco de café sozinho. A gota d’água veio numa tarde quente de março de 1865. Benedita estava coletando ervas na mata quando ouviu gritos vindos da cenzala.
Correu na direção do barulho e encontrou uma cena que ficaria gravada na sua memória para sempre. Rosa, uma escrava de 35 anos que havia sido sua amiga desde que chegara à fazenda, estava sendo espancada pelo major e seus três filhos. O motivo? Ela havia sido acusada de roubar um anel de ouro da Casa Grande, acusação que depois se provou falsa quando o objeto foi encontrado no quarto do próprio Marcelo.
“Para de chorar, sua vagabunda!”, gritava o Major enquanto Rosa se contorcia no chão. “Negro ladrão tem que aprender a respeitar”. Os três filhos se revesavam nos pontapés, rindo como se fosse brincadeira divertida. Benedita viu Rosa cuspir sangue, viu seus olhos vidrados de dor, viu o momento exato em que algo se quebrou dentro daquela mulher que havia sido mãe de quatro filhos vendidos para outras fazendas.
Rosa morreu três dias depois, oficialmente de febres, mas Benedita sabia a verdade. Foram as lesões internas causadas pela surra que mataram sua amiga. E naquela noite, velando o corpo de Rosa na Senzala, Benedita tomou uma decisão que mudaria o curso da história da fazenda Santa Rita.
“Rosa”, sussurrou ela para a amiga morta. Eu prometo que eles vão pagar pelo que fizeram, pela natureza sagrada que me ensinou seus segredos. Eu juro que eles vão conhecer a justiça. Foi naquele momento que Benedita começou a planejar a vingança mais silenciosa e mortal já vista no interior de Minas Gerais.
Ela usaria o conhecimento que sua avó lhe ensinou, o conhecimento que os brancos desprezavam chamando de macumba de negro para dar uma lição que nunca seria esquecida. Durante asan seguintes, Benedita começou a observar ainda mais atentamente os hábitos da família Silva. Descobriu que o major tomava um chá digestivo todas as noites antes de dormir e Rodrigo bebia cachaça misturada com melacis, que Henrique adorava um doce de goiaba, que a cozinheira fazia especialmente para ele e que Marcelo tinha o costume de tomar uma garrafada fortificante que ele mesmo pedia para Benedita preparar.
A ironia da situação não escapou à percepção aguçada de Benedita. Os mesmos homens que a consideravam inferior, que a tratavam como propriedade, dependiam dela para curar suas doenças e fortificar seus corpos. Eles confiavam na negra das ervas para preparar seus remédios, sem imaginar que ela conhecia segredos que poderiam transformar remédio em veneno com apenas algumas gotas a mais de determinada substância.
Benedita passou abril e maio de 1865 coletando as plantas que precisaria. Mamona brava, que em grandes quantidades atacava o fígado, espirradeira que causava problemas cardíacos, comigo ninguém pode, que provocava convulsões. E sua especialidade, uma combinação de três ervas nativas da região que, quando misturadas na proporção correta, causavam uma morte que os médicos da época interpretariam como morte natural por problemas do coração. Enquanto coletava suas plantas mortais, Benedita mantinha sua rotina normal.
Continuava curando os escravos doentes, preparando os remédios para os capatazes, cuidando da sua horta medicinal. Mas agora cada gesto tinha duplo significado. Cada folha colhida, cada raiz secada, cada preparação era um passo a mais na direção da sua vingança. E o mais impressionante era como ela conseguia manter a calma, como se estivesse preparando remédios comuns para curar dor de barriga. Mas bloco dois, 2000 palavras.
Em maio de 1865, Benedita começou a colocar seu plano em prática de forma sutil e calculada. Ela sabia que precisava agir devagar, como uma serpente que se aproxima da presa sem fazer barulho. Qualquer pressa, qualquer erro e sua chance de vingança se perderia para sempre.
Pior ainda, ela provavelmente morreria na forca ou queimada viva, como acontecia com escravos que ousavam levantar a mão contra seus senhores. Por isso, cada movimento de Benedita era pensado três vezes. Cada preparação testada em pequenos animais da fazenda antes de ser usada nos seus alvos verdadeiros. O primeiro passo foi conquistar ainda mais a confiança da família Silva.
Benedita intensificou seus cuidados com a saúde dos senhores, sempre se mostrando solicita e dedicada. Quando o major reclamou de dores nas costas após um dia longo montando a cavalo, ela preparou um emplastro de arnica que aliviou completamente a dor. Quando Rodrigo apareceu com uma ressaca terrível depois de uma noite de bebedeira na vila, foi o chá de Benedita que o trouxe de volta à vida.
Quando Henrique cortou a mão consertando uma cerca e a ferida ameaçou infeccionar, foram as ervas de Benedita que impediram que ele perdesse os dedos. “Essa negra é um tesouro”, disse o major certa manhã para os filhos, enquanto Benedita servia o café da manhã. “Ela vale mais que muito doutor da capital, cura tudo que a gente tem”.
Rodrigo concordou massageando a testa, onde ainda sentia os efeitos da bebedeira da noite anterior. “É verdade, pai? Ontem eu pensei que ia morrer de dor de cabeça e o chá dela me salvou. Henrique mostrou a mão já cicatrizada e olha aqui como a ferida sarou rápido. Sem ela, eu tinha perdido esses dedos. Até Marcelo, que sempre se mostrava mais desconfiado, elogiou os preparados de Benedita.
Aquela garrafada que ela faz para dar energia realmente funciona. Desde que comecei a tomar, me sinto mais forte para o trabalho. Benedita ouvia todos os elogios em silêncio, sempre respondendo com um humilde obrigada, senhor ou é dom de Deus, senhor. Por dentro, sentia uma satisfação amarga. Eles estavam elogiando exatamente a pessoa que planejava matá-los.
Era como se estivessem afiando a própria lâmina que cortaria suas gargantas. A ironia da situação era tão absurda que às vezes Benedita precisava se controlar para não sorrir na frente deles. Durante esse período, Benedita também se aproximou mais dos outros escravos, especialmente daqueles que trabalhavam na casa grande. Precisava de informações detalhadas sobre os hábitos da família, sobre que horas cada um acordava, que comidas preferiam, que bebidas tomavam e em que momentos ficavam sozinhos.
Catarina, a cozinheira principal, tornou-se uma fonte valiosa de informações, sem nem saber. Dona Benedita, dizia ela enquanto preparavam o jantar juntas, o senor Rodrigo pediu para fazer aquele doce de leite com coco que ele gosta tanto. E o Senr. Henrique quer que você prepare mais daquela garrafada para dor nas costas.
Benedita absorvia cada detalhe, cada preferência, cada rotina. Foi através dessas conversas que Benedita descobriu algo que mudaria completamente sua estratégia. O major havia marcado uma grande festa para comemorar o aniversário de 27 anos de Rodrigo, que aconteceria no dia 20 de junho. Seria uma celebração com fazendeiros vizinhos, autoridades da região e até algumas famílias importantes de Diamantina.
A casa grande seria preparada para receber mais de 50 convidados e Benedita, como a curandeira oficial da fazenda, seria responsável por preparar algumas bebidas especiais para a ocasião. Benedita, disse o major numa tarde quente de maio. Quero que você prepare aquelas garrafadas suas para a festa do Rodrigo.
Os convidados vão ficar impressionados quando souberem que temos uma negra que entende de medicina natural melhor que os doutores da capital. O major falava com orgulho, como se Benedita fosse um troféu que ele queria exibir para os amigos.
Quero garrafada para dar energia, para ajudar na digestão e para fortificar o sangue. Você pode fazer isso? Benedita baixou a cabeça respeitosamente. Claro, senhor Major, vai ser uma honra preparar as garrafadas para a festa do senhor Rodrigo. Naquele momento, Benedita percebeu que o destino havia colocado em suas mãos a oportunidade perfeita, uma festa com dezenas de pessoas, bebidas preparadas especialmente por ela e toda a família Silva reunida para comemorar.
seria a chance para executar sua vingança de forma que parecesse acidente ou morte natural. Ninguém suspeitaria que os remédios preparados pela negra das ervas de confiança da família eram, na verdade venenos mortais. Benedita intensificou seus preparativos, começou a secar e moer as plantas venenosas que havia coletado, sempre trabalhando durante a madrugada, quando todos dormiam.
transformou folhas de comigo ninguém pode em pó fino, extraiu o sumo leitoso da mamona brava e deixou secar até virar uma pasta concentrada. Preparou uma tintura de espirradeira que, em pequenas quantidades, causaria apenas tonturas, mas em doses maiores provocaria parada cardíaca.
O mais impressionante era como Benedita conseguia manter sua dupla vida. Durante o dia era a curandeira dedicada, sempre pronta para ajudar quem precisasse. Curou a filha pequena do capataz quando a menina ficou com febre. preparou um unguento para a esposa do feitor, que estava com dor nas articulações. Fez um chá calmante para dona Marta, a vizinha do major, que sofria de nervosismo.
A noite, porém, se transformava numa espécie de bruxa vingativa, preparando poções mortais à luz de velas, sussurrando promessas de justiça para os espíritos dos escravos mortos. Uma semana antes da festa, Benedita fez um teste com um dos cachorros da fazenda. misturou uma pequena quantidade do seu veneno na comida do animal e observou os efeitos.
O cachorro morreu em duas horas, sem demonstrar sinais óbvios de envenenamento. Para qualquer observador, teria parecido que o animal morreu de causas naturais, talvez um problema cardíaco súbito. Benedita enterrou o corpo na mata e soube que sua fórmula estava pronta. Nos dias que antecederam a festa, a fazenda Santa Rita fervilhava de atividade. Escravos limpavam a casa grande até ela brilhar.
Outros preparavam decorações com flores do campo. E as mulheres da cozinha trabalhavam dia e noite preparando doces, salgados e iguarias para impressionar os convidados importantes. Benedita participava de tudo, sempre solicita, sempre prestativa, mas por dentro contava os dias para executar sua vingança. Benedita, disse Catarina numa tarde enquanto amassavam biscoitos.
O senhor major tá muito animado com essa festa. Diz que vai mostrar para todo mundo como a fazenda dele é próspera e bem administrada. Benedita continuou amassando a massa sem levantar os olhos. É mesmo, Catarina? Vá ser uma festa bonita. Catarina baixou a voz. Entre nós, acho que ele quer arranjar casamento para os filhos.
Ouvi dizer que vão vir algumas moças da capital, filhas de fazendeiros ricos. Benedita assentiu pensativamente. Tomara que dê tudo certo para eles. Por dentro, pensava que seria a última festa que a família Silva faria. No dia 18 de junho, dois dias antes da festa, Benedita recebeu ordens para preparar as garrafadas especiais. O major queria três tipos diferentes.
Uma para dar energia e disposição, outra para facilitar a digestão depois das comidas pesadas e uma terceira para fortificar o sangue e o vigor dos homens, como ele disse, piscando maliciosamente para os filhos. Benedita preparou tudo com o maior cuidado, misturando ervas aromáticas e saborosas para disfarçar completamente o gosto amargo dos venenos. A garrafada energética levou o guaraná.
gengibre, canela e uma dose mortal da sua mistura venenosa. A digestiva tinha erva cidreira, hortelã, boldo e outro tipo de veneno que atacaria o fígado lentamente. E a terceira, a fortificante, continha catuaba, maruama, gineng brasileiro e a quantidade exata de toxinas para causar uma parada cardíaca que pareceria morte natural.
Benedita testou o sabor de cada uma várias vezes, adicionando mel e cachaça de qualidade para tornar as bebidas irresistíveis. Na manhã do dia 19, véspera da festa, Benedita acordou com uma sensação estranha no peito. Era uma mistura de nervosismo, ansiedade e uma satisfação profunda que ela nunca havia sentido antes.
Depois de mais de dois anos sofrendo humilhações, vendo amigos morrerem, aguentando a crueldade daquela família, finalmente chegara a hora da justiça. Rosa seria vingada, Joaquim seria vingado. Todos os escravos que morreram nas mãos do Silva seriam vingados. Benedita se levantou cedo e foi cuidar da sua horta medicinal, como fazia todos os dias.
Mas naquela manhã, enquanto regava as plantas que tanto amava, sussurrou uma oração especial: Espíritos da mata, ancestrais que me ensinaram os segredos das plantas, me deem força para fazer justiça. Que as ervas que curam também saibam castigar aqueles que fazem o mal. Que a natureza proteja os oprimidos e pune os opressores. Uma brisa leve balançou as folhas das árvores, como se os espíritos estivessem respondendo à sua prece.
E aí, pessoal, vocês estão conseguindo sentir a tensão aumentando? Essa história da Benedita está me arrepiando enquanto eu conto para vocês. Se vocês também estão vidrados nessa vingança silenciosa e mortal, não esqueçam de se inscrever no canal e ativar o sininho para não perder nenhum episódio das nossas histórias incríveis.
E me contem aqui nos comentários, vocês acham que Benedita está certa em se vingar dessa forma ou existe alguma outra maneira de fazer justiça nessa situação? Deixem sua opinião aí embaixo. Eu leio todos os comentários e adoro saber o que vocês pensam sobre essas histórias que marcaram a nossa história. O dia 20 de junho de 1865 amanheceu com um céu azul cristalino e uma brisa fresca que trazia o perfume das flores silvestres dos campos.
Na fazenda Santa Rita, desde as primeiras horas da manhã, havia uma movimentação intensa. Os escravos corriam de um lado para outro, carregando mesas, cadeiras, pratos, copos e tudo que seria necessário para a grande festa de aniversário de Rodrigo. As mulheres da cozinha trabalhavam como formigas, fritando salgados, assando doces, temperando carnes e preparando as bebidas que seriam servidas aos convidados ilustres.
Benedita observava tudo com olhos calmos. Mas por dentro, seu coração batia com a força de um tambor de guerra. Chegara finalmente o dia da sua vingança. Por volta das 9 da manhã, o major chamou Benedita até seu escritório na Casagre. Era um cômodo escuro, cheio de livros empoeirados, papéis espalhados e o cheiro forte de fumo de charuto que impregnava as cortinas pesadas.
“Benedita”, disse ele, sem levantar os olhos dos papéis que assinava. As garrafas estão prontas?” Ela respondeu com sua voz sempre respeitosa. “Sim, senhor major, estão todas preparadas e guardadas na dispensa da cozinha”. O major finalmente a olhou, sorrindo com satisfação. Ótimo. Quero que você sirva pessoalmente para mim e meus filhos quando eu der o sinal.
Vai ser um momento especial da festa quando eu apresentar você para os convidados como a nossa curandeira. Benedita abaixou a cabeça. Sim, senhor. Será uma honra. Saindo do escritório, Benedita cruzou com Rodrigo no corredor. O aniversariante de 27 anos estava vestido com suas melhores roupas: camisa branca de linho, colete bordado, calças de casimira e botas de couro lustradas.
Seus cabelos estavam penteados com brilhantina e ele cheirava ao perfume caro que mandava vir da capital. E aí, Benedita? Disse ele parando na frente dela. Preparou aquelas garrafadas suas para hoje? Ela manteve os olhos baixos. como uma escrava obediente deveria fazer. Sim, senhor Rodrigo, preparei com muito carinho para o seu aniversário. Rodrigo sorriu maliciosamente.
Que bom, porque hoje eu vou precisar de muita energia. Tem umas moças bonitas vindo da capital e eu pretendo impressionar elas com minha disposição. Ele riu da própria piada e seguiu o caminho, sem imaginar que aquela seria a última conversa da sua vida. Os primeiros convidados começaram a chegar por volta das 2 da tarde.
Fazendeiros vizinhos com suas esposas e filhas, comerciantes prósperos de Diamantina, autoridades locais e até um juiz da comarca. Todos vinham montados em cavalos de raça ou em elegantes carruagens, vestidos com suas melhores roupas, como se fossem a uma festa na corte imperial. A casa grande da fazenda Santa Rita nunca havia recebido tantas pessoas importantes ao mesmo tempo.
E o major Antônio circulava entre os convidados radiante de orgulho, apresentando sua propriedade próspera e seus filhos educados. Benedita trabalhava discretamente na cozinha, ajudando Catarina e as outras escravas a servir os pratos e as bebidas, mas seus olhos estavam sempre atentos aos movimentos da família Silva. observa onde cada um estava, com quem conversava, que horas comiam ou bebiam alguma coisa.
Esperava pacientemente o momento certo para colocar seu plano em ação, como uma onça, esperando o momento perfeito para atacar a presa. Por volta das 4 da tarde, depois que os convidados já haviam comido os salgados e experimentado os doces, o major bateu no copo com uma colher, pedindo atenção de todos.
“Meus caros amigos”, disse ele com voz alta, para ser ouvido por toda a sala. Antes de continuarmos nossa festa, eu gostaria de apresentar para vocês um tesouro que temos aqui na fazenda Santa Rita. Ele fez um gesto para Benedita se aproximar. Esta é Benedita, nossa curandeira oficial. Ela conhece os segredos das plantas medicinais melhor que qualquer doutor formado e preparou especialmente para hoje umas garrafadas que vão impressionar vocês.
Os convidados olharam para Benedita com curiosidade, misturada com ceticismo. Era comum nas fazendas ter escravos que entendiam de plantas, mas era raro um proprietário fazer tanto caso disso na frente de visitas importantes. Benedita, continuou o major. Traga aqui as garrafadas que você preparou para mostrar para nossos amigos.
Benedita fez uma reverência e se retirou para buscar as bebidas mortais que havia preparado com tanto cuidado. Na cozinha, Benedita pegou uma bandeja de prata e colocou três garrafas de vidro escuro, cada uma com um rótulo manuscrito, indicando suas propriedades. Energética, digestiva e fortificante. Também pegou alguns copinhos de vidro para servir as bebidas.
Suas mãos estavam firmes, sua respiração controlada. Não sentia nervosismo nem medo, apenas uma determinação fria como o ferro. Voltou à sala onde todos a esperavam e colocou a bandeja sobre uma mesa no centro do ambiente. “Vejam só que maravilha”, disse o major pegando a primeira garrafa. Esta aqui é para dar energia e disposição.
Esta é para ajudar na digestão. E esta terceira é para fortificar o sangue e dar vigor aos homens. Alguns convidados riram das palavras do major, outros demonstraram interesse genuíno. Dr. Sacramento, um médico de Diamantina que estava entre os convidados, se aproximou da mesa. Major, com todo respeito, essas crenças populares sobre plantas medicinais não têm base científica.
Um homem instruído como o senhor não deveria dar crédito a essas superstições de negros. O major ficou visivelmente incomodado com o comentário. Sua face enrubeceu e ele cerrou os punhos. Dr. Sacramento, eu respeito sua formação, mas posso garantir que as preparações desta negra funcionam melhor que muitos remédios que o senhor receita.
Para provar seu ponto, o major pegou um copo e serviu um pouco da garrafada energética. Rodrigo, venha cá, filho. Prove esta garrafada na frente de todos e diga se não sente mais disposição. Rodrigo se aproximou, rindo. Claro, pai. Eu confio nas preparações da Benedita. Pegou o copo da mão do pai e bebeu tudo de uma só vez.
Henrique, você também, continuou o major, agora determinado a provar que estava certo. Prove a digestiva. Henrique obedeceu sem hesitar, bebendo a garrafada que atacaria seu fígado em questão de horas. E você, Marcelo, prove- a fortificante. O filho mais novo também bebeu sua dose mortal, sorrindo para os convidados. Pronto, disse o major triunfante.
Em pouco tempo vocês vão ver como meus filhos ficam mais dispostos e animados. Benedita observa tudo em silêncio, mantendo sua expressão neutra. Por dentro, sentia uma satisfação profunda e sombria. Os três homens que haviam torturado e matado tantos escravos inocentes acabavam de selar seus próprios destinos.
Beberam voluntariamente, na frente de dezenas de testemunhas, os venenos que ela havia preparado com tanto cuidado. Não havia mais volta. Em algumas horas, todos os três estariam mortos e ela finalmente teria vingado Rosa, Joaquim e todos os outros que sofreram nas mãos daquela família cruel. A festa continuou normalmente pelas próximas duas horas.
Os convidados conversavam animadamente, bebiam vinho, comiam doces e elogiavam a hospitalidade do major. Rodrigo parecia realmente mais animado e conversava com as moças solteiras que haviam vindo da capital. Henrique discutia negócios com outros fazendeiros. Marcelo tocava piano para entreter as senhoras mais velhas. Tudo parecia perfeito. Uma celebração elegante numa fazenda próspera.
Mas por volta das 6 da tarde, Rodrigo começou a se sentir mal. Primeiro foi apenas um malestar no estômago que ele atribuiu aos salgados que havia comido. Depois veio uma dor de cabeça forte e uma sensação de tontura. Pai”, disse ele se aproximando do Major. “Estou me sentindo meio estranho. Acho que comi demais”.
O major olhou para o filho com preocupação. “Vai lá dentro descansar um pouco. Deve ser o calor e a animação da festa.” Rodrigo se retirou para seus aposentos, onde se deitou tentando aliviar o mal-estar crescente. Meia hora depois, foi a vez de Henrique começar a passar mal.
Ele estava conversando com o doutor Sacramento sobre os preços do café, quando sentiu uma dor aguda no lado direito do abdômen. A dor era tão forte que ele se dobrou, segurando a barriga e gemendo baixinho. “Henrique, o que está acontecendo?”, perguntou o Dr. Sacramento, imediatamente preocupado. “Não sei, doutor. Uma dor terrível aqui do lado.” O médico o examinou rapidamente e franziu a testa.
Pode ser apendicite. É melhor você se deitar e ficar em repouso. Marcelo foi o último a ser afetado, mas quando os sintomas começaram, foram os mais dramáticos. Por volta das 7 da tarde, enquanto tocava uma valsa no piano, ele subitamente parou no meio da música e levou a mão ao peito. Sua face empalideceu e ele começou a suar frio.
“Meu coração”, murmurou ele. “Está batendo muito rápido.” Antes que alguém pudesse ajudá-lo, Marcelo desabou sobre o teclado do piano, produzindo um acorde dissonante que ecoou pela sala cheia de convidados assustados. O doutor Sacramento correu para socorrer Marcelo, mas já era tarde. O rapaz de 20 anos estava inconsciente, com a respiração irregular e o pulso fraquíssimo.
“Rápido”, gritou o médico. “Me ajudem a carregá-lo para um quarto e alguém vá ver como estão os outros dois irmãos”. O pânico tomou conta da festa. Os convidados se entreolhavam sem entender o que estava acontecendo. Como três homens jovens e aparentemente saudáveis, poderiam ficar doentes ao mesmo tempo.
Quando foram verificar Rodrigo e Henrique, a situação era ainda pior. Rodrigo estava inconsciente em sua cama, com convulsões espasmódicas que faziam seu corpo se contorcer de forma assustadora. Henrique gemia de dor, vomitando sangue numa bacia que uma escrava havia colocado ao lado da cama. O Dr.
Sacramento corria de quarto em quarto, tentando entender o que estava afetando os três irmãos simultaneamente. “Major”, disse o médico com voz grave, “eu nunca vi nada igual a isso. Os sintomas são completamente diferentes em cada um deles, mas todos ficaram doentes ao mesmo tempo. Isso não parece natural. O major estava desesperado, caminhando de um lado para outro no corredor da casa grande.
Doutor, pelo amor de Deus, faça alguma coisa. São meus três filhos. Dr. Sacramento balançou a cabeça tristemente. Estou fazendo tudo o que posso, major, mas o sintomas são muito graves. Temo que seja tarde demais. Benedita observava toda a confusão, mantendo sua máscara de preocupação e tristeza. Quando o major a chamou desesperado, perguntando se ela não tinha algum remédio para ajudar os filhos, ela respondeu com lágrimas nos olhos: “Senhor Major, eu tentaria qualquer coisa para salvar os senhores, mas nunca vi uma doença assim. Parece que foi coisa do demônio que atacou eles ao mesmo tempo.” Por dentro, sabia
exatamente o que estava acontecendo em cada quarto. Rodrigo estava morrendo pelos efeitos das neurotoxinas. Henrique estava com falência hepática. Marcelo estava tendo uma parada cardíaca lenta e irreversível. Às 9 da noite, Marcelo foi o primeiro a morrer. Seu coração simplesmente parou de bater e nem as tentativas desesperadas do Dr. Sacramento conseguiram reanimá-lo.
Meia hora depois, foi a vez de Rodrigo, que morreu numa convulsão final que durou quase 5 minutos. Henrique agonizou até quase meia-noite, quando finalmente sucumbiu a falência múltipla dos órgãos. Em menos de 6 horas, os três filhos do Major Antônio Pereira da Silva estavam mortos.
A madrugada do dia 21 de junho foi a mais longa da vida do Major Antônio Pereira da Silva. Sentado na varanda da casa grande, ainda vestindo suas roupas de festa amarrotadas, ele olhava fixamente para os três caixões de madeira que estavam sendo preparados pelos carpinteiros da região.
Em menos de 24 horas, havia perdido todos os seus filhos, toda a sua descendência, toda a esperança de ver a família Silva continuar prosperando nas terras de Minas Gerais. Aos 49 anos, aquele homem que sempre se orgulhara da sua força e autoridade parecia ter envelhecido 20 anos numa única noite. Os convidados da festa haviam partido ainda durante a madrugada, alguns assustados com o que presenciaram, outros comentando em voz baixa sobre maldições e castigos divinos.
Doutor Sacramento ficou até o final, tentando entender o que havia causado mortes tão simultâneas e com sintomas tão diferentes. Ele havia examinado os corpos várias vezes, mas não conseguia explicar como três homens jovens e saudáveis morreram de causas aparentemente naturais no mesmo dia. “Major”, disse ele antes de partir. “Lamento profundamente sua perda.
Vou enviar meu relatório para as autoridades de Diamantina, mas posso adiantar que não encontrei sinais de violência ou ferimentos externos. Parecem ter sido mortes naturais, embora seja muito estranho acontecer com os três ao mesmo tempo. Benedita passou aquela noite velando os corpos junto com as outras escravas, como era costume na fazenda. Rezava o terço, cantava as cantigas fúnebres e chorava lágrimas que pareciam genuínas aos olhos de quem observava.
Por dentro, porém, sentia uma paz profunda que não experimentava há anos. Cada vez que olhava para o rosto pálido e sereno de Rodrigo, lembrava de todas as vezes que ele havia abusado das escravas mais jovens. Quando via Henrique deitado no caixão com as mãos cruzadas sobre o peito, recordava da crueldade com que ele aplicava castigos nos escravos desobedientes.
E ao contemplar Marcelo, o mais novo, pensava em todas as humilhações que ele havia infligido aos cativos mais velhos. “Rosa”, sussurrou Benedita baixinho durante uma das orações. “Sua morte foi vingada. Joaquim Sebastião, todos vocês que sofreram nas mãos desta família podem descansar em paz. A justiça foi feita.
As outras escravas que estavam rezando ao lado dela acharam que ela estava falando com os mortos, pedindo que intercedessem pelas almas dos falecidos. Não imaginavam que Benedita estava conversando com os espíritos dos escravos mortos, celebrando silenciosamente a vingança consumada. Durante os três dias que antecederam o enterro, a fazenda Santa Rita recebeu visitas de autoridades que queriam entender o que havia acontecido. O delegado de Diamantina, Dr.
Joaquim Ferreira, chegou no segundo dia acompanhado de um escrivão e dois soldados. Era um homem experiente que já havia investigado muitos crimes na região, mas nunca tinha visto uma situação como aquela. “Major Pereira”, disse ele após examinar os corpos e ouvir o relato doutor Sacramento. Preciso fazer algumas perguntas sobre os acontecimentos da festa. O interrogatório durou várias horas.
O major contou sobre a festa, sobre os convidados, sobre a comida e as bebidas que foram servidas. mencionou as garrafadas que Benedita havia preparado, mas não como algo suspeito, e sim como uma demonstração das habilidades da sua curandeira oficial. Delegado, explicou ele, aquelas garrafadas são famosas na região.
Benedita já curou dezenas de pessoas com seus preparados. Meus próprios filhos tomavam remédios dela há mais de dois anos e nunca tiveram problema algum. O delegado também interrogou vários escravos, incluindo Benedita. “Você preparou bebidas especiais para a festa?”, perguntou ele, olhando diretamente nos olhos dela. Benedita manteve sua expressão humilde e respeitosa. Sim, senhor delegado.
O senhor major pediu para eu fazer três tipos de garrafada. Uma para dar energia, outra para ajudar na digestão e a terceira para fortificar o sangue. O delegado fez anotações no seu caderno. E como você preparou essas bebidas? Benedita explicou detalhadamente os ingredientes que havia usado, mencionando apenas as ervas benéficas e omitindo completamente as substâncias venenosas.
Usei guaraná, gengibre, canela, erva cidreira, boldo, catuaba, maruama, todas ervas conhecidas e seguras, senhor. Nunca tive problema com nenhum preparado meu. Durante a investigação, o delegado descobriu algo que inicialmente o deixou desconfiado. Soube, através de outros escravos, que Benedita havia ficado muito abalada com a morte da escrava rosa alguns meses antes e que havia sido vista várias vezes coletando plantas na mata durante a madrugada.
Mas quando interrogou Benedita sobre isso, ela explicou que sempre coletava plantas de madrugada, porque era quando elas tinham mais propriedades medicinais, conforme sua avó havia ensinado. Quanto à morte de Rosa, disse que realmente ficou muito triste porque eram amigas.
mas que não guardava ressentimento contra a família Silva, porque o Senhor Major sempre foi bom comigo, me tratou bem e confiou no meu trabalho. O que mais impressionou o delegado foi a reação dos outros escravos quando perguntava sobre Benedita. Todos falavam dela com respeito e gratidão, contando sobre as vezes que ela havia curado filhos doentes, aliviado dores, salvado vidas.
Catarina, a cozinheira, chorava ao falar de Benedita. Senhor delegado, ela é um anjo enviado por Deus. Salvou minha neta quando a menina quase morreu de febre. curou o pé infeccionado do João, aliviou as dores nas costas do velho Antônio. “Todo mundo aqui na fazenda deve a vida para ela.
” Outros escravos confirmaram esses relatos, criando um retrato de Benedita como uma mulher bondosa e dedicada, incapaz de fazer mal a qualquer pessoa. Além disso, o delegado verificou que vários convidados da festa também haviam consumido alimentos e bebidas preparados pelos escravos da cozinha, incluindo Benedita. e nenhum deles apresentou qualquer sintoma. Isso reforçava a teoria de que as mortes foram causadas por alguma doença súbita e coincidente, não por envenenamento.
Dr. Sacramento, que tinha formação médica e havia examinado os corpos, também não encontrou evidências de intoxicação. Para ele, os sintomas eram compatíveis com problemas cardíacos, hepáticos e neurológicos que poderiam ter causas naturais. Após quatro dias de investigação, o delegado Dr. Joaquim Ferreira concluiu que não havia evidências de crime.
Em seu relatório oficial, escreveu: “Após minuciosa investigação dos fatos ocorridos na fazenda Santa Rita, no dia 20 de junho de 1865, não foram encontradas evidências de ação criminosa nas mortes de Rodrigo Henrique e Marcelo Pereira da Silva. Os depoimentos coletados e o exame médico realizado pelo Dr.
Sacramento indicam que os falecidos foram vitimados por moléstias súbitas de causas naturais, embora a simultaneidade dos óbitos seja circunstância incomum e lamentável. Os funerais dos três irmãos foram realizados na capela da própria fazenda, com a presença de centenas de pessoas das fazendas vizinhas.
O padre de Diamantina celebrou a missa falando sobre os mistérios da vontade divina e sobre como a morte pode chegar inesperadamente até mesmo aos mais jovens e saudáveis. O major chorava copiosamente durante toda a cerimônia, amparado por amigos e vizinhos que tentavam consolá-lo. Benedita estava entre as escravas que cantavam as orações fúnebres, sua voz se misturando harmoniosamente com o couro de lamentos.
Após os enterros, a vida na fazenda Santa Rita mudou completamente. O major, destruído pela perda dos filhos, perdeu o interesse pelos negócios e pelos cuidados com a propriedade. Começou a beber pesadamente e a passar dias inteiros trancado em seu quarto, emergindo apenas para as refeições. Os capatazes assumiram a administração da fazenda, mas sem a supervisão rigorosa do proprietário, a disciplina entre os escravos ficou mais relaxada.
Era como se a morte dos três filhos tivesse quebrado o espírito autoritário que sempre caracterizou aquela família. Benedita continuou exercendo suas funções de curandeira, mas agora com ainda mais prestígio e respeito. A tragédia que abalou a família dos senhores não diminuiu a confiança que os escravos e até os vizinhos tinham nos seus preparados medicinais.
Pelo contrário, muitas pessoas passaram a procurá-la ainda mais frequentemente, seja para curar doenças físicas ou para pedir proteção espiritual contra desgraças semelhantes. Ela recebia todos com a mesma humildade e dedicação de sempre, preparando seus remédios com carinho e cobrando preços simbólicos ou trocando por favores. Durante asanas que se seguiram aos funerais, Benedita observou uma mudança significativa no comportamento dos outros escravos da fazenda.
Havia uma sensação de alívio no ar, como se um peso terrível tivesse sido retirado dos ombros de todos. As surras diminuíram drasticamente, porque os capatazes tinham medo de contrariar o major em seu estado de luto. Os trabalhos continuaram sendo realizados, mas sem a pressão e a violência constantes que caracterizavam a administração anterior. Era como se a morte dos três filhos tivesse quebrado uma maldição que pairava sobre a fazenda Santa Rita.
Uma noite, cerca de um mês após as mortes, Benedita estava em sua horta medicinal quando foi procurada por Josué, um escravo de meia idade que trabalhava nos estábulos. Ele se aproximou dela com cuidado, olhando para os lados para ter certeza de que ninguém os observava. “Benedita,” sussurrou ele.
“Posso fazer uma pergunta?” Ela continuou regando suas plantas sem demonstrar preocupação. “Claro, Josué, o que você quer saber?” Ele hesitou por alguns momentos antes de falar. Você acha que a morte dos três filhos do Major foi castigo de Deus pela crueldade que eles faziam com a gente? Benedita parou de regar as plantas e olhou diretamente nos olhos de Josué.
Por um momento, ele achou que ela fosse revelar algum segredo, confessar alguma coisa, mas ela apenas sorriu com serenidade e respondeu: “Josué, os caminhos do Senhor são misteriosos. Quem somos nós para questionar sua vontade? O que posso dizer é que Rosa, Joaquim, Sebastião e todos os nossos irmãos que partiram antes podem finalmente descansar em paz.
Josué a sentiu pensativo e se afastou, mas levou consigo a certeza de que Benedita sabia mais do que estava dizendo. Dois anos se passaram desde aquela noite fatídica de junho de 1865 e a fazenda Santa Rita nunca mais foi a mesma. O major Antônio, que antes era conhecido pela sua energia e autoridade, tornou-se uma sombra do homem que fora.
Aos 51 anos, parecia ter 70, com cabelos completamente brancos, rosto enrugado e olhos vazios que não demonstravam interesse por nada. passava a maior parte dos dias sentado na varanda da casa grande, olhando para o horizonte sem ver nada, perdido em memórias dos filhos que havia perdidos de forma tão súbita e misteriosa. A propriedade começou a mostrar sinais de decadência.
Os cafezais não receberam os cuidados adequados. O gado vagava pelos pastos sem controle adequado. E a casa grande precisava de reparos que o major não autorizava nem supervisionava. Os escravos continuavam trabalhando, mas sabiam que a fazenda estava perdendo valor e produtividade.
Muitos fazendeiros vizinhos já fizeram ofertas para comprar a propriedade, mas o major recusou todas, dizendo que aquela terra guardava a memória de seus filhos e ele jamais se desfaria dela. Benedita continuou sendo curandeira oficial da fazenda, mas sua fama se espalhou muito além dos limites da propriedade. Pessoas vinham de Diamantina, serro, Conceição do Mato dentro e até de lugares mais distantes para consultar a negra das ervas, que conheciam segredos medicinais que nem os doutores da capital dominavam. Ela atende a todos com a mesma dedicação, curando desde dores de
barriga de crianças até problemas mais complexos de adultos. Sua confiança era imaculada e ninguém jamais associou seu nome às mortes misteriosas dos filhos do Major. Em setembro de 1867, aconteceu algo que mudaria definitivamente o destino de Benedita. O major recebeu a visita de seu irmão mais novo, coronel Francisco Pereira da Silva, que morava em Ouro Preto e havia prosperado no comércio de pedras preciosas.
Francisco vinha tentando convencer o irmão a vender uma fazenda há mais de um ano, argumentando que ele não tinha condições físicas nem emocionais para administrar uma propriedade daquele tamanho. Antônio disse ele durante uma conversa na varanda. Você precisa aceitar a realidade. Sem os meninos para ajudar essa fazenda vai à ruína. É melhor vender enquanto ainda vale alguma coisa.
Durante essa visita, o coronel Francisco ficou com as habilidades de Benedita. Sua esposa, dona Carmela, sofria de reumatismo há anos e nenhum médico conseguiu aliviar suas dores. Quando Francisco apresentou o problema, o major sugeriu que Benedita examinasse a cunhada. Francisco, essa negra é um tesouro. Ela entende de plantas medicinais melhor que qualquer doutor formado.
Se alguém puder ajudar a Carmela, é ela. O coronel, inicialmente cético, acabou concordando em deixar Benedita examinar sua esposa. Benedita preparou um tratamento especial para dona Carmela, combinando em plastros externos com chás para uso interno. Em uma semana, a dor havia diminuído significativamente. Em um mês, dona Carmela caminhou sem dificuldades pela primeira vez em anos.
O coronel Francisco ficou tão impressionado que fez uma proposta inusitada ao irmão. Antônio, eu gostaria de comprar essa escrava. Preciso de uma curandeira como ela em ouro preto. Pago o que você pedir por ela. O major, porém, decidiu categoricamente. Francisco, eu não vendo a Benedita por dinheiro nenhum. Ela é mais que uma escrava aqui na fazenda. É como se fosse da família.
Além disso, foi ela que cuidou dos meus meninos nos últimos dias de vida. Tenho uma gratidão eterna por ela. O coronel insistiu, oferecendo valores cada vez maiores, mas o major ocorreu irredutível. Benedita ouviu toda essa conversa da cozinha e sentiu algo estranho no peito.
Foi a primeira vez em sua vida que um senhor recusou dinheiro para não se desfazer dela, mas o destino tinha outros planos para Benedita. Em dezembro de 1867, o major Antônio foi encontrado morto em sua cama, aparentemente vítima de um ataque cardíaco durante o sono. Ele estava com 51 anos e, segundo o Dr. Sacramento, que foi chamado para examinar o corpo, morreu de causas naturais.
O coração, enfraquecido pelo luto e pela bebedeira excessiva dos últimos anos, simplesmente parou de bater. Com a morte do major, a fazenda Santa Rita ficou sem dono direto e o coronel Francisco, como único pai próximo, herdou toda a propriedade, incluindo 180 escravos. A primeira decisão do novo proprietário foi vender a fazenda.
Ele não tinha interesse nem conhecimento para administrar uma propriedade rural, preferindo seus negócios com pedras preciosas em ouro preto. A fazenda foi vendida para um consórcio de fazendeiros da região, mas Francisco manteve um grupo de alguns escravos que consideravam mais valiosos, incluindo Benedita. Essa negra vem comigo para Ouro Preto”, anunciou ele.
Vale mais que muito doutor formado e minha esposa precisa dos cuidados dela. Benedita recebeu a notícia com sentimentos contraditórios. Por um lado, senti tristeza por deixar a fazenda onde havia vivido por quase 5 anos e onde executara sua vingança.
Por outro lado, via na mudança uma oportunidade de começar uma nova vida longe de tudo que aligava às mortes dos filhos do major. Em janeiro de 1868, ela partiu para Ouro Preto, acompanhando o coronel Francisco e sua família. A vida em Ouro Preto era completamente diferente da vida rural na fazenda. A cidade fervilhava de atividade comercial com pessoas de várias nacionalidades envolvidas na mineração e no comércio de ouro e pedras preciosas.
A casa do coronel Francisco ficou nas ruas principais. Era um sobrado elegante, com móveis finos e decoração sofisticada. Benedita foi instalada numa pequena casa nos fundos da propriedade, onde montou um novo consultório para atendimentos medicinais.
Em Ouro Preto, a fama de Benedita cresceu ainda mais rapidamente do que havia crescido na região de Diamantina. A cidade tinha uma população maior e mais diversificada, incluindo comerciantes ricos, funcionários do governo, mineradores e suas famílias. Todos foram eventualmente de cuidados médicos e muitos preferiram os tratamentos naturais de Benedita aos medicamentos caros e nem sempre eficazes dos médicos formados.
Ela cobrava preços justos, frequentava pessoas de todas as classes sociais e nunca recusava socorro a quem realmente precisasse. Em 1869, aconteceu algo que mudaria a vida de Benedita para sempre. Durante um atendimento a uma família de comerciantes, ela conheceu Augusto, um homem livre de cor que trabalhava como carpinteiro especializado em móveis finos.
Augusto tinha 32 anos, era viúvo sem filhos e havia conquistado respeito na cidade pela qualidade do seu trabalho. Ele encontrou Benedita para tratar de uma dor nas costas que o incomodava há meses, resultado de anos carregando madeiras pesadas e trabalhando em posições desconfortáveis.
O tratamento de Augusto durou várias semanas e durante esse período eles conversaram muito sobre suas vidas, seus sonhos e suas experiências. Augusto ficou conhecido pela sabedoria e serenidade de Benedita, enquanto ela admirava a honestidade e a dedicação ao trabalho. Gradualmente, uma amizade sincera se transformou em algo mais profundo. “Benedita,” disse Augusto numa tarde depois de um tratamento.
“Eu sei que você é escrava e eu sou livre, mas queria que informações que tenho muito respeito e carinho por você”. Benedita ficou tocada pelas palavras de Augusto, mas sabia que a diferença de condição social tornava qualquer relacionamento impossível. Augusto respondeu ela com tristeza. Você é um homem bom e trabalhador, mas eu pertenço ao coronel Francisco. Não posso escolher minha própria vida.
Augusto, porém, não desistiu facilmente. E se eu conseguisse comprar sua alforria, tenho algumas economias guardadas. poderia fazer uma proposta ao seu senhor. A ideia parecia impossível, mas Augusto estava determinado. Ele havia juntado dinheiro durante anos com a intenção de expandir sua oficina de carpintaria, mas decidiu usar suas economias para tentar comprar a liberdade de Benedita. Procurou o coronel Francisco e fez uma proposta formal.
Coronel, gostaria de comprar a alforria da escrava Benedita. Tenho aqui R00.000 Ris em ouro. O coronel ficou surpreso com a proposta, mas depois de refletir por alguns dias, acabou aceitando. Benedita era uma escrava valiosa, mas ele reconhecia que ela havia conquistado o direito à liberdade pelos serviços prestados à sua família. No dia 15 de março de 1870, Benedita recebeu oficialmente sua carta de alforria.
Aos 33 anos, depois de uma vida inteira de cativeiro, ela finalmente estava livre. A primeira coisa que fiz foi procurar Augusto para agradecer o gesto generoso. Augusto! Disse ela com lágrimas nos olhos. Você me deu o presente mais precioso que alguém pode dar a outra pessoa, a liberdade. Ele enviou e segurou as mãos dela. Benedita, agora que você está livre, posso fazer a pergunta que venho guardando no coração há meses.
Você gostaria de se casar comigo? O casamento de Benedita e Augusto foi realizado na Igreja do Rosário em maio de 1870, com a presença de coleções de amigos e conhecidos. Era raro na época um casamento entre ex-escrava e homem livre, mas o casal havia conquistado tanto respeito na comunidade que a cerimônia foi vista como uma celebração de amor verdadeiro que superou as barreiras sociais.
Benedita usou um vestido simples, mas elegante e Augusto ficou impecável em seu terno de casamento. Nos anos seguintes, Benedita e Augusto construíram uma vida próspera e feliz em Ouro Preto. Ela continua exercendo sua profissão de curandeira, agora como mulher livre, cobrando valores justos pelos seus serviços e conquistando clientes em toda a região.
Augusto expandiu sua oficina de carpintaria e se tornou um dos artesões mais respeitados da cidade. Em 1872, eles tiveram sua primeira filha, Maria das Graças. Em 1874, nascia o segundo filho, José Augusto. Em 1876, chegou à caçula Ana Clara. Benedita criou os três filhos com muito amor e dedicação, mas também com a consciência de que eles deveriam conhecer a história da escravidão e valorizar a liberdade que possuíam.
Ela nunca contou para ninguém, nem mesmo para Augusto, o que realmente aconteceu na fazenda Santa Rita naquela noite de junho de 1865. esse segredo ela levaria para o túmulo. Mas sempre ensinou aos filhos que a justiça, mesmo quando demora para chegar, sempre chega para aqueles que sabem esperar com paciência e agir com sabedoria.
En 1888, cuando la princesa Isabel firmó la Ley Dorada, Benedita tenía 51 años y lloró de emoción al enterarse de que la esclavitud por fin había sido abolida en Brasil. Aquel día, recordó a Rosa, a Joaquim y a todos los esclavos que murieron soñando con la libertad. «Descansen en paz», susurró, mirando al cielo. «La libertad por fin ha llegado para todos nosotros».
Benedita falleció en 1905 a los 68 años, rodeada de sus hijos, nietos y bisnietos. Era respetada en todo Ouro Preto como una de las sanadoras más competentes de la historia de la ciudad. Cientos de personas asistieron a su funeral, siendo testigos del impacto positivo que había tenido en la vida de tantas familias. Augusto falleció dos años después, en 1907, y fue enterrado junto a su esposa en el cementerio de la ciudad.
La historia de Benedita da Mata, como se la conoció en Ouro Preto, es recordada por el público como un ejemplo de superación, sabiduría y entrega a los demás. Nadie imaginaba que tras esa mujer bondadosa y servicial se escondía una vengadora silenciosa que, valiéndose de su conocimiento de las plantas, tomaba la justicia por su mano. Su venganza fue perfecta, letal, indetectable y ejecutada con tal maestría que jamás levantaría sospechas.
Rosa fue vengada, Joaquim fue vengado, y todos los esclavos supervivientes quedaron a cargo de la familia. Silva finalmente recuperó la paz. Amigos, hemos llegado al final de esta increíble y escalofriante historia de Benedita da Mata. ¡Qué trayectoria tan impresionante, ¿verdad?! Una mujer que transformó su conocimiento ancestral de plantas medicinales en un arma silenciosa de justicia.
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