A primeira vez que o vi, era pouco depois da meia-noite, do lado de fora da lavanderia 24 horas.

Ele estava encolhido sobre um colchonete de camping rasgado, como se fosse a cama mais macia do mundo, com a luz fraca de um letreiro de néon piscando acima dele.

No peito dele, havia um pequeno gato laranja, com o pelo falhado e uma orelha pela metade.

Ela estava deitada sobre ele como se aquele fosse o lugar dela — seu subir e descer sincronizado perfeitamente com a respiração dele.

Os sapatos dele estavam presos com fita adesiva.

Uma sacola de lixo estava ao lado dele, no lugar de uma mochila.

Dava para ver que a vida tinha marcado ele de maneiras que a maioria de nós não consegue imaginar.

Comecei a deixar comida do café onde eu trabalhava no turno da noite — um muffin extra, uma tigela de sopa, uma vez até um sanduíche de queijo grelhado que sobrou.

Ele nunca pedia. Sempre agradecia. E sempre fazia questão que o gato comesse primeiro.

Uma noite, finalmente sentei ao lado dele e perguntei o nome dela.

“Hazel,” ele disse, acariciando delicadamente a parte esfarrapada atrás da orelha dela.

“Ela me escolheu,” acrescentou suavemente, olhando para ela, não para mim. “Isso é o que importa.”

Com o tempo, aprendi pedaços da história dele — como o irmão parou de atender suas ligações, como a mãe dele morreu três invernos atrás, como ele tentou abrigos, mas Hazel não era permitida.

“Então escolhi o frio,” ele disse simplesmente.

“Porque sem ela… não há motivo para entrar.”

E então, na semana passada, eles sumiram.

Três noites seguidas — sem Hazel, sem saco de dormir, nenhum sinal deles além do concreto vazio onde sempre estavam.

Perguntei por aí. Algumas pessoas murmuraram sobre uma equipe da cidade limpando a área.

Ninguém sabia para onde ele tinha ido. Ninguém tinha visto o gato.

Até esta manhã.

No meu caminho para o trabalho, vi um flash de laranja no ponto de ônibus.

Era Hazel. Sozinha.

Ela olhou direto para mim… como se estivesse esperando.

Ajoelhei devagar, estendendo a mão. Hazel se aproximou sem hesitar, seu corpinho tremendo.

Foi quando vi — um pedaço de papel amarrado frouxamente ao seu colar com um barbante gasto.

Com dedos trêmulos, desamarrei e abri o bilhete.

Dizia:

Se você está lendo isto, eu não pude ficar. Alguém me acolheu, mas Hazel fugiu para te encontrar.

Por favor, cuide dela. Ela também vai cuidar de você.

A caligrafia era irregular, quase desesperada.

E, em letras menores no final:

Voltarei para buscá-la assim que puder.

Hazel pressionou a cabeça na minha palma, ronronando baixinho.

Cheirava levemente a chuva fria e poeira.

Peguei-a no colo, sentindo seu peso frágil contra mim.

Enquanto a levava para o café, não conseguia parar de pensar — para onde ele teria ido?

E de quem, exatamente, ele estava fugindo?

Algo me dizia… essa não era a última parte da história.

Levei Hazel para casa naquela noite.

Ela se acomodou no meu sofá como se sempre tivesse estado ali, enrolando-se numa bola com as patas bem dobradas sob o queixo.

Coloquei um prato de atum, mas ela mal tocou antes de cair em sono profundo.

Durante a semana, ela virou minha sombra — me seguindo de um cômodo para outro, vigiando cada porta como se esperasse ele entrar a qualquer momento.

Às vezes, no meio da noite, ela se sentava na janela da frente, abanando lentamente o rabo, com os olhos fixos na rua.

Não conseguia parar de pensar no bilhete.

A caligrafia ficava na minha mente, especialmente as palavras “não pude ficar.”

O que isso significava? Não podia ficar onde?

E por que deixar Hazel com um estranho?

No quarto dia, decidi tentar encontrá-lo.

Comecei pelos abrigos, mas ninguém o tinha visto.

Depois fui à despensa de alimentos, aos bancos do parque, à passagem subterrânea onde algumas pessoas às vezes dormiam — nada.

Era como se a cidade o tivesse engolido.

Foi então que um homem mais velho no ponto de ônibus falou.

“Você está procurando o cara com o gato laranja, né?” perguntou, estreitando os olhos.

Eu assenti.

“Sim… eu o vi há cerca de uma semana.

A polícia estava falando com ele.

Ele parecia assustado.

Então um carro preto chegou, e ele foi embora com eles.

Não parecia que ele tinha muita escolha.”

Um carro preto.

Um detalhe estranho, mas que ficou na minha cabeça.

Quem pega um sem-teto em um carro preto?

E por que ele iria se não quisesse?

Naquela noite, Hazel se recusou a comer.

Ela apenas se sentou perto da janela de novo, as orelhas se mexendo a cada som lá fora.

Ajoelhei ao lado dela, acariciando seu pelo, quando senti algo estranho sob os dedos — um caroço duro no forro do colar.

Puxei com cuidado a costura e encontrei… um pequeno pen drive, menor que a minha unha do polegar.

Minhas mãos ficaram geladas.

Não era apenas um gato que ele tinha deixado para trás.

Hazel estava carregando algo.

Algo importante.

E, de repente, tive a sensação ruim…

O que quer que tenha acontecido com ele, não foi por acaso.